

A peça Roda viva foi escrita por Chico Buaque no final de 1967 e estreou no Rio de Janeiro, no início de 1968, sob a direção de José Celso Martinez Corrêa, com Marieta Severo, Heleno Pests e Antônio Pedro nos papéis principais. A temporada no Rio foi um sucesso, mas a obra virou um símbolo da resistência contra a ditadura durante a temporada da segunda montagem, com Marília Pêra e Rodrigo Santiago. Um grupo (de cerca de 110 pessoas) do Comando de Caça aos Comunistas - CCC - invadiu o teatro Galpão, em São Paulo, em julho daquele ano, espancou artistas e depredou o cenário. No dia seguinte, Chico Buarque estava na platéia para apoiar o grupo e começava um movimento organizado em defesa de Roda viva e contra a censura nos palcos brasileiros.
Trecho retirado do site Itau Cultural:Na crítica ao espetáculo, Marco Antônio de Menezes descreve: "A cortina já está aberta quando você chega: enormes rosas à esquerda, enorme garrafa de Coca-Cola à direita, enorme tela de TV no fundo, uma passarela branca avançando até metade da platéia. (...) A campainha toca três vezes, a platéia faz silêncio, ruídos estranhos saem dos alto-falantes, na tela de TV aparece uma frase: 'Estamos à toa na vida'. (...) Entra o coro, com longas túnicas vermelhas e mantilhas pretas. Canta um triste Aleluia, rodeia Benedito. Aparece o Anjo da Guarda (Antônio Pedro), o empresário de TV, com asas negras, cassetete de policial na cintura, maquiagem de palhaço de circo: 'Benedito não serve, nós precisamos de um ídolo! Você será Bem Silver!' E o coro joga para trás as túnicas e mantilhas, é agora um grupo de jovens iê-iê-iê que canta: 'Aleluia, temos feijão na cuia!' (...) O espetáculo não está somente no palco, o coro invade a platéia, conversa com ela, e o empresário pede um minuto de silêncio em homenagem ao ídolo: cada participante do coro olha fixamente um espectador (agora todos já entendem porque a bilheteria insistiu em vender ingressos da primeira fila). (...) O minuto termina, Bem Silver é carregado para o palco num grotesco andor feito de long-plays e fotos de cantores, conduzido por grotescas caricaturas das 'macacas de auditório', que no fim do primeiro ato o levam embora, deitado sobre uma cruz de madeira, nu, cansado sob o peso do próprio sucesso. (...) Bem Silver, esgotado pelo sucesso, procura o consolo de sua mulher (...) para um linda cena de amor que é repentinamente interrompida pela câmara (sic) de TV e pelo Capeta (o jornalista desonesto) (...). E juntos, o jornalista e o Ibope decretam o fim da carreira de Bem Silver: 'O ídolo é casado! E além de tudo, é bêbado!' Uma procissão de três matronas antipáticas tenta salvar o ídolo exigindo que ele faça caridade. Mas nada adianta, Bem Silver acabou. Só há uma solução: transformá-lo em Benedito Lampião, o 'cantor de protesto', vestido de nordestino, falando de 'liberdade' e de 'vamos lutar'. A esquerda festiva o aclama, o jornalista vendido perde sua porcentagem e a vontade de elogiar o Lampião. O Ibope, vestido de papa, decreta novo fim para Benedito Lampião. Para manter o prestígio, ele deve suicidar-se. (...) A platéia sai do teatro evitando sujar os saltos dos sapatos Chanel nos restos do fígado de Benedito Silva que o coro das fãs devora no final. (...) Tudo é caricatura do religioso no espetáculo, que, como atividade religiosa, se desenvolve em todo o teatro, palco, galerias, platéia (O teatro com que sonhava Antonin Artaud). Para criar o ídolo, ele é liturgicamente paramentado, peça por peça de seu ridículo traje prateado. (...) os atores se dirigem agressivamente à platéia, fazem perguntas, pedem assinaturas em manifestos, sacodem e encaram os espectadores (a censura de 14 anos me parece muito pouco severa para o espetáculo). Bem Silver se encontra com a esposa coroado de espinhos, nu, como o Cristo. A tentativa de salvar o ídolo em decadência é encenada como uma procissão, liderada pelo Capeta (seria a peça toda uma Missa Negra?) - que satiriza o jornalista marrom - usando como cruz o conhecido 'X' de lâmpadas empregado pelos fotógrafos. E a primeira cena entre Benedito e sua mulher é uma caricatura da Visitação de Nossa Senhora. (...) Elementos cristãos, aliás, são misturados com rituais pagãos (o fígado de Prometeu, as orgias de Dionísio), até com rituais políticos (a foice-e-martelo no chapéu nordestino de Benedito Lampião. José Celso, na realidade, mais que dirigir, celebrou Roda Viva".2
Ficha técnica 1° montagem:
Direção: José Celso Martinez Corrêa
Cenários e figurinos: Flávio Império
Direção musical: Carlos Castilho
Coreografia: Klauss Vianna
Direção de produção: Renato Corrêa de Castro e Rony Nascimento
Assistente de direção: Antônio Pedro
Personagens:
Benedito Silva
Ben Silver
Benedito Lampião
Anjo da Guarda
Juliana
Juju
Capeta
Mané
Coro e músicos
Elenco:
Heleno Prestes
Antônio Pedro
Marieta Severo
Flávio São Tiago
Paulo César Pereio
Alceste Castelani
Ângela Falcão
Ângela Vasconcelos
Eudósia Acunã
Érico Vidal
Fábio Camargo
Fernando Reski
Ada Gauss
Jura Otelo
Maria Alice Camargo
Maria José Mota
Pedro Paulo
Samuel Costa
Músicos:
LeãoBrechov
Tião
Zelão
Guaxinim
Ficha técnica 2° Montagem:
Direção:José Celso Martinez Corrêa
Cenários e figurinos:Flávio Império
Direção musical:Carlos Castilho
Coreografia:Klauss Vianna
Produção executiva: Renato Corrêa de Castro
Assistente de direção: Antônio Pedro
Assistente de produção e cenografia: Mari Yoshimoto
Assistente de direção musical: Zelão
Assistente de coreografia: Jura Otero
Elenco/ Personagem :
Rodrigo Santiago: Benedito Silva
Ben Silver:Benedito Lampião
Antônio Pedro: Anjo da Guarda
Marília Pêra: Juliana/Juju
Flávio Santiago: Capeta
Paulo César Pereio:Mané
Músicos :
Alex: órgão
Brechov: bateria
Tião: baixo/violão
Guaxinin: piston
Zelão: guitarra/viola/violão
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